No sábado, dia 03 de Agosto, acontece a abertura de “Mitos, contos e alegorias”, individual da artista Gabriella Garcia na Galeria Lume. Com texto curatorial de Igi Ayedun, a exposição ocupa a galeria com 27 obras, que se dividem entre esculturas em concreto, cerâmica, telas em grande formato e pinturas sobre madeira. Garcia também apresenta uma obra da série “Jurei Mentiras” desenvolvida desde 2020.

Na exposição, Gabriella retoma elementos da iconografia greco-romana, recriando-os por meio de inteligência artificial para provocar um desequilíbrio hierárquico. Aqui as imagens são abstraídas de seus contextos originais, editadas, difundidas e finalmente deformadas por processos que as anulam e as modificam. Todas as obras elaboradas através de inteligência artificial são desenvolvidas como esculturas físicas através de materiais históricos e inéditos na produção de Gabriella. Os resultados das execuções de comandos inseridos pela artista incorporam multiplicidades de correntes estilísticas e formam novas figuras estranhas, insólitas e muitas vezes, irreconhecíveis, e é nesse momento em que a imagem, enquanto objeto “desfigurativo”, completa sua realização e se torna dependente de interpretações e não mais de intenções.

Em continuidade ao conceito de farsa abordado em sua última individual na galeria, “Esse sonho pode nunca acontecer” em 2021, na qual exibia obras carregadas de símbolos da história da arte clássica, Gabriella traz agora questionamentos e reflexões a respeito do pensamento hegemônico eurocêntrico, aliado às astúcias das imagens religiosas.

Em alguns trabalhos a artista levanta imagens históricas coloniais, como na obra “Contra-História” que através de uma gravação a laser sobre pedra de mármore, apresenta a reprodução da pintura “Primeira Missa” de Victor Meirelles a qual foi financiada pelo império de Pedro ll com o intuito de perpetuar o que fora uma imagem forjada que encenava de forma pacífica esse processo inicial referente a catequização dos povos originários durante o período colonial. Junto da obra, encontra-se disponível ao espectador uma ferramenta que traz a oportunidade não só de apagar mas também de adicionar à aquela cena o que for de sua vontade, tecendo assim, uma nova história.

Ao adentrar os espaços ocupados por Gabriella, o visitante é confrontado com uma diversidade de peças iconográficas jamais vistas. Ora figurativas, ora abstratas, os novos símbolos instigam uma reavaliação da história: o que é o real? O que determina que uma imagem seja digna de adoração? Onde está a fronteira entre mito, conto e alegoria?

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