Nesta terça-feira (11/6), Marcelo Tas entrevista o mestre em Ciências da Religião, músico, escritor e pai-de-santo David Dias. No bate-papo, ele explica a diferença de Umbanda e Candomblé, o significado das palavras saravá e do orixá Exu, fala sobre seu livro Sincretismo na Umbanda, sobre racismo religioso e muito mais. O Provoca vai ao ar na TV Cultura, às 22h.
“Há a necessidade de saber de onde se veio”, diz David Dias. Por que se demorou tanto para saber?, indaga Tas. “Pessoas negras não tem acesso ao passado, meu passado caiu no Atlântico, foi jogado no Atlântico, então eu não tenho direito ao passaporte dos meus ancestrais (…) pessoa negra… tem alguém que vai buscar o passaporte africano, angolano? Tem alguém que vai buscar a dupla nacionalidade na Itália, na Espanha, Alemanha. Agora o negro não volta pra África para buscar seu passaporte, então por isso que as religiões de matriz africana ajudam a gente a elaborar a ancestralidade. Por isso que memória e ancestralidade são valores inegociáveis para essas culturas”, explica o pai-de-santo.
Em outro momento do programa ele diz: “Cristo não é o problema. Por exemplo, eu que sou de terreiro, eu sou umbandista, porque eu teria problemas com Cristo? Mas quando eu olho para a sociedade, se eu saio com essa roupa na rua, há pessoas que me matam em nome dele. O que está acontecendo?, pergunta Tas. “Isso é racismo, racismo religioso. Para você entender, Tas, se eu colocar uma roupa branca em você, um filá na cabeça, guias no seu pescoço e falar vamos até o metrô, nós dois sofreremos racismo. Você vai sofrer racismo (…) mas não pela cor da pele, e sim pelos elementos que você usa que indicam exatamente de onde é essa religião”, comenta Dias.
Sobre seu livro Sincretismo na Umbanda, David explica: “o sincretismo é um fenômeno de encontro presente em todas as religiões (…) quando você tem três, quatro religiões, e coloca tudo dentro de um balaio, mistura, ali você tem um fenômeno do sincretismo, sincretismo é mistura (…) quando a gente pensa no encontro da água do mar, com a do rio, a gente vai perceber que na nossa ideia surge uma terceira água (…) só que se eu tenho um riacho e o mar invade aquele rio, eu tenho gosto de água salgada (…) você não vê mais o rio, mas muita coisa do mar (…) sempre que há esse fenômeno, culturas dominantes, de prevalência e poder, acabam marcando, ditando a regra, ganhando a guerra (…) e com isso perdemos identidade”, afirma.